Luciana Cox, ou Luli para os mais próximos, é uma empresária que realizou não apenas um sonho, mas também marcou seu nome na história dos esportes de neve do Brasil ao participar da Vasaloppet, a maior prova de Ski Cross Country do mundo!
Todos os anos, mais de 10.000 competidores se reúnem na Suécia para participar da Vasaloppet. Membros da família real sueca já participaram da maratona, como Carl XVI Gustav, rei da desde 1973, que já participou da prova em 3 ocasiões, e seu filho, o príncipe Carl Philip. Em 2024, a famosa corrida de longa distância completou 100 anos.
A ideia
Apesar de sua experiência em desafios de resistência, Luli Cox nunca havia praticado o Ski Cross Country. Sem nenhum contato prévio com a modalidade, a brasileira teve a ideia de participar da Vasaloppet de maneira inusitada.
“Eu vi um filme de romance na Netflix em que a Vasaloppet era o grande desafio da protagonista. A competição me encantou e rapidamente fui pesquisar se existia mesmo. Quando descobri a magnitude e dimensão da competição já me apaixonei logo de cara. Além disso, ao descobrir que em 2024 seria a centésima edição fiquei totalmente rendida. Eu adoro desafios diferentes e modalidades diferentes!”, explica Luli.
Para completar os 90km da prova, Luli procurou a ajuda de um especialista, Leandro Ribela, ex-atleta olímpico, Coordenador Técnico de Ski Cross Country da CBDN e fundador do projeto Ski na Rua.
“Conheci a Luli pessoalmente há muito tempo, quando eu ainda era atleta e ela fazia corrida de aventura. Nunca tivemos um contato próximo, mas sabíamos da existência um do outro”, conta Leandro.
“Quando ela resolveu fazer os 90km da Vasaloppet, pensou em levantar a bandeira do Ski na Rua para angariar fundos para o projeto e me procurou para auxiliá-la no treinamento a distância. Achei o desafio bem interessante e a causa muito nobre. Falei que se ela levasse a sério eu toparia e ela me respondeu que se fosse brincadeira não teria me procurado. E não foi diferente durante todo o processo” completa o ex-atleta.
A preparação
Ao todo, foram seis meses de preparação para Luli disputar uma prova tão longa. Morando em Portugal há algum tempo, ela teve de começar sua preparação com o Rollerski, devido a falta de neve em sua região. Em seguida, orientada remotamente por Leandro, a brasileira fez duas semanas treinamentos na neve: uma na Alemanha e outra na Suíça.
“O Leandro desde o começo me explicou tudo sobre o esporte desde o básico até o mais avançado. Ele me passou a planilha de treino e fazíamos trocas de vídeos e técnicas. Eu mandava meus vídeos para ele e ele me respondia com correções de postura e movimento”, conta Luli.
“Estudei muito a prova. Distância, altimetrias, condições… Me informei com pessoas que já tinham feito para tentar descobrir e prever quais poderiam ser as eventuais dificuldades. Também assisti vídeos de outras edições da competição”, completa.
“A Luli tem um histórico bem legal de desafios de endurance no currículo, mas não sabia nada sobre o Ski Cross Country e tinha que aprender o máximo possível em 6 meses. Por conta disso, ajudei na seleção do equipamento e locais adequados para treinar, além da elaboração dos treinos específicos para o ski, na identificação de pessoas que pudessem auxiliá-la nesse processo, nas orientações técnicas e no passo a passo para que ela pudesse cumprir todas as etapas do planejamento”, comentou Leandro.
Os obstáculos
Mas como toda e qualquer preparação, Luli Cox enfrentou muitos desafios para conseguir participar da Vasaloppet, como explica Leandro Ribela.
“Perdemos um dos três períodos de inserção na neve por falta de neve na região dos EUA onde a Luli estava, então isso atrasou um pouco o nosso aumento de volume na neve. Além disso, a Luli inventou de fazer o desafio do Dunga na Disney (5km, 10km, 21km e 42km de corrida em 4 dias) dois meses antes da Vasaloppet, então teve que continuar correndo um volume razoável, mesmo em um período em que o ideal seria estar focando na preparação específica com Rollerski no asfalto e ski na neve. Não só isso, durante o período de preparação, choveu muito na região onde ela mora, o que atrapalhou um pouco também a realização de alguns treinos.”
Luli também relembra a dificuldade em aprender as técnicas da modalidade em si, apesar de já ter esquiado anteriormente.
“Eu sofri bastante no começo para aprender o rollerski. Eu contava os meus treinos por tombos “hoje eu só caí três vezes!”, mas cair faz parte do aprendizado, não é mesmo?”, disse ela.
“Tivemos que fazer ajustes também do treino conforme a previsão do tempo. No inverno chove muito aqui no norte de Portugal. Por conta disso, muitas vezes tínhamos que reprogramar ou fazer trocas de treino do roller para o skierg.”
A prova e o legado de Luli Cox na Vasaloppet
Depois de toda a preparação, obstáculos e aprendizados, chegou o grande dia. No dia 3 de março de 2024, Luli Cox se tornou a primeira brasileira a participar da Vasaloppet em toda a história, marcando seu nome na história dos esportes de neve no país.
“Foi muito especial para mim, poder representar o Brasil, as mulheres, e “pintar” a neve com um pouco de cor e alegria do nosso país” celebra.
“A Vasaloppet é icônica. É a celebração da história de um país, de um rei e seu povo. Acrescentados à isso as incríveis histórias decorridas nas 100 edições da competição. Tem muita história, cultura, vivência e energia. Experienciar e poder ter feito parte de um pouquinho, e acrescentar minha história a tantas outras vividas ali é um enorme privilégio!”, completa a brasileira.
Apesar das dificuldades enfrentadas, como as condições climáticas no dia da prova, Luli conta como conseguiu superar tudo isso para completar o trajeto.
“Durante a prova tive que me adaptar rapidamente a neve pesada e molhada que estava no dia, aguentar o frio do meu pé congelado durante toda competição e encarar mentalmente a contagem regressiva de todos os quilometros do percurso 90,89,88… (risos). Porém, eu estava mesmo fisicamente bem preparada. Algo que me inspirou durante o percurso foi relembrar a Margit Nordin, que foi a primeira mulher a competir na prova em 1923, abrindo a porta para tantas outras mulheres”, explica.
Leandro Ribela, peça fundamental na preparação da brasileira na maratona, não esconde a emoção de vê-la completando esse desafio.
“A emoção de ver um atleta concluindo o seu objetivo é a mesma. Me emocionei e torci do mesmo jeito, como se estivesse ali com ela”, disse ele.
“A cada ano nossa bandeira fica mais conhecida pelos locais de neve espalhados pelo mundo, e aos poucos o número de mulheres brasileiras no esporte vai crescendo. A Luli nos representou muito bem, com a seriedade que encarou o desafio, sendo uma grande embaixadora para o Ski na Rua e se tornando a primeira mulher brasileira a encarar o desafio, abrindo o caminho para muitas outras que se identifiquem e acreditem que podem ingressar no esporte.” completa.
Após seu grande feito, Luli não pretende parar por aqui:
“Vou continuar competindo! Tem muitas montanhas para escalar de rollerski. Quero aprender o skating, quero fazer um triatlo de inverno e também quero fazer uma competição num dia lindo e com boas condições de neve para tirar o trauma”, conta ela de maneira bem humorada.