Maior atleta de Snowboard da América Latina, Isabel Clark passou por reavaliação médica nesta quinta (15) e, devido ao forte impacto de uma queda durante treino oficial realizado na quarta (14), não terá condições de disputar a prova de Snowboard Cross. Com dores no joelho e calcanhar direitos, a rider que faria sua quarta participação olímpica, comentou sobre o episódio.
“Estou tranquila porque lutei muito para estar aqui, durante todos esses quatro anos. Foi uma verdadeira batalha para treinar e conseguir evoluir. Foi muito interessante tudo o que passei e aprendi, graças a todos que me ajudaram e me apoiaram: CBDN, Núcleo de Alto Rendimento (NAR-SP), Ministério do Esporte e outros apoiadores. Foi tudo muito gratificante. O snowboard é um esporte competitivo, tem crescido muito, a classificação olímpica é muito difícil. Você vê somente nesta edição outros atletas sul-americanos se classificando, além de mim. É muito importante ter chegado até aqui. Não me arrependo de nada desse processo, foi tudo muito gratificante. A competição tem muitas quedas, risco. Estou triste, mas estou tranquila que dei meu máximo”, ponderou Clark.
Após repouso e tratamento, o médico da delegação brasileira em PyeongChang, Dr. Roberto Nahon, reavaliou a situação de Isabel Clark na manhã desta quinta. Pela impossibilidade de realizar os testes técnicos que simulam os saltos da competição devido às dores, e com a compreensão de Isabel, a atleta brasileira não poderá participar das qualificatórias do Snowboard Cross, que acontecem ainda hoje.
“No primeiro dia, as mulheres treinaram separadamente aos homens. Pudemos observar como eles passavam para calcular qual velocidade teríamos de aplicar. À tarde, percebemos que a adaptação deles foi mais rápida, a pista é bem grande e impressionante. Nós não realizamos a pista toda nesse mesmo dia, devido ao vento, mas me senti bem na pista, com mais confiança”, pontuou Isabel.
No segundo dia de treinos oficiais a pista se apresentou um pouco mais lenta e as mulheres treinaram junto aos homens. “Consegui fazer um obstáculo que não estava conseguindo após a primeira curva na parte final do treino. Peguei confiança e, no setor que tinha o maior salto da pista, na primeira tentativa, freei, porque senti um pouco de vento. Na segunda descida, era minha única oportunidade de fazer e testar. Achei que estava bem melhor e equilibrada. Quando arrisquei, o vento me freou no ar e eu caí na porção mais plana do salto, o que gerou um forte impacto na neve. Fiquei bem chateada porque senti bastante dor no calcanhar e joelho, desci de maca com a patrulha. Não conseguia caminhar e fui para a clínica passar por exames. Sentia dores, mas tinha esperança de melhorar”, contou.
Preocupada com o calcanhar, inicialmente, Clark relembrou outros dois incidentes que resultaram em lesões parecidas. Uma em Sochi 2014, em grau mais leve, e outra em Arosa (Suíça), durante o Campeonato Mundial de Snowboard de 2007. No entanto, ao acordar nesta quinta, a rider brasileira sentiu melhora na região e o que se mostrou mais agravante foram as fortes dores no joelho. “Não estou conseguindo esticá-lo direito, sinto dor ao dobrar, na mecânica do joelho”, comentou.
Sem condições de apoiar o calcanhar no chão devido ao edema, os impactos já conhecidos e típicos da disciplina na pista impossibilitam a rider de largar nas qualificatórias: “Com os impactos na pista seria complicado. Realmente, são limitações importantes que me impedem até de caminhar, estou utilizando muletas. Infelizmente, não tenho condições de tentar fazer a pista”.
Dona do melhor resultado da história do país em uma edição dos Jogos, o 9º lugar em Turim 2006, Isabel Clark acumulou ao longo de sua caminhada para classificação a PyeongChang 2018 inúmeros feitos como estar presente durante a maioria do período de classificação olímpica entre as 15 melhores do mundo, as mais de 100 largadas no Circuito da Copa do Mundo, o 13º título overall da Copa Sul-Americana de Snowboard e o 21º título brasileiro.
Apesar da aposentadoria olímpica, após o período de recuperação, Isabel Clark deve continuar a competir em etapas da Copa do Mundo e outros torneios. “Não quero ser radical e parar completamente. A partir de agora, vou ver minhas condições dia a dia, mês a mês”, explicou.